Como o ‘B’ no BRICS — o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — o Brasil é um dos vários pesos-pesados econômicos previstos para tornarem-se cada vez mais importantes para o PIB mundial nos próximos anos. Um gigante do setor agrícola e de manufatura, o Brasil é também rico em petróleo e minerais preciosos, um dos maiores produtores mundiais de café, e uma potência cultural. Não é surpresa, portanto, que o país seja o lar de algumas pessoas incrivelmente ricas.
No Brasil, o Julius Baer atende clientes através de seu family office. “Cuidamos de investimentos como se tivessem sido feitos com nosso próprio dinheiro,” diz Fernando Vallada, diretor executivo e CEO do Julius Baer Brasil em São Paulo. Um family office oferece um catálogo completo de serviços de gestão de patrimônio para clientes de alto patrimônio líquido e seus parentes, cuidando de planos de sucessão, doações filantrópicas e questões fiscais, além de atividades de investimento tradicionais.
Vallada e sua equipe enfrentam uma competição acirrada. Existem vários family offices operando atualmente no Brasil; de fato, eles tornaram-se tão populares que uma proporção significativa do investimento em fundos de private equity e venture capital no país são conduzidos por firmas do subsetor.
“Temos o desafio de mostrar aos clientes como competimos com os gigantes atuando aqui no Brasil,” diz Vallada. Ele adiciona que gerenciar dinheiro de família requere pensar como uma família.
“Temos um relacionamento próximo com nossos clientes — a relação pessoal é elemento-chave, e a principal diferença entre os bancos privados tradicionais e o que um family office faz,” Vallada explica. “Assistimos famílias com um volume enorme de investimentos, e é difícil dizer onde nós começamos e onde a família termina, porque tudo é tão interligado.”
Outra vantagem desfrutada por seu escritório é o que Vallada descreve como uma abordagem “agnóstica-bancária” que a firma usa para gestão de patrimônio. O escritório oferece assessoria e serviços de investimento para famílias independentemente de onde seu dinheiro esteja guardado, o que ajuda a economizar tempo e evita problemas de logística.
“A abordagem agnóstica-bancária significa que podemos ajudar nossos clientes a encontrar as melhores soluções do mercado, o que é transformador se comparado ao que as firmas locais podem fazer,” afirma.
A unidade que Vallada gerencia — baseada em São Paulo — é o resultado da fusão de duas das maiores firmas independentes de gestão de patrimônio do Brasil: a Global Portfolio Strategists, adquirida pelo Julius Baer em 2016, e a Reliance, comprada em 2018. O Julius Baer tem dois outros escritórios no Brasil, localizados no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
Embora a equipe do family office ofereça serviços altamente personalizados, um certo grau de impessoalidade acaba sendo bastante importante: o anonimato e a privacidade são preocupações fundamentais dos clientes, diz Vallada — tanto que ele e seus colegas não usam nomes dos clientes no dia a dia, optando por apelidos. Tais medidas tornaram-se mais importantes ainda com o avanço da internet, ele nota.
“Um dos impactos da tecnologia é que você pode passar cinco minutos online e encontrar o perfil completo de alguém — e tudo em que investiram. Nós temos que lidar com isso da melhor forma possível e proteger os dados de nossos clientes,” diz Vallada.
A privacidade é especialmente importante considerando-se os altos níveis de concentração de riqueza no Brasil — uma situação preocupante.
“Onde existe uma concentração dessas, é muito importante ter privacidade em termos de informações financeiras — 50% dos ativos financeiros no Brasil estão concentrados nas mãos de uma seção minúscula da população”, ele explica. “Temos muitas questões para resolver. Como gestores de patrimônio, temos a responsabilidade de trazer isso para nossos clientes. Podemos ajudar não só com oportunidades de investimento, mas também com filantropia.”
De acordo com a Oxfam, os seis indivíduos mais ricos do Brasil detêm juntos a mesma riqueza que os 50% mais pobres da população; os 5% mais ricos do país possuem o mesmo que os 95% restantes. Vallada espera que o family office seja um catalisador de mudanças, guiando clientes em direção a causas beneficentes que tenham o maior impacto possível.
Em relação ao futuro do cenário de investimentos, Vallada diz que os jovens investidores no Brasil estão cada vez mais confortáveis com ferramentas digitais, e mergulham no mundo da tecnologia de trading, abordagens algorítmicas e consultores robóticos. Mas o sucesso financeiro, argumenta ele, muitas vezes pode levar a uma mudança em direção a estratégias mais tradicionais de gestão de patrimônio.
“Quando as gerações mais jovens têm 10mil, 50mil ou 100mil, eles usam robôs e a internet — eles fazem tudo digitalmente. Mas quando alcançam seu primeiro milhão ou 10 milhões, eles buscam gestores tradicionais de patrimônio. Eles querem interação humana, querem discutir gestão de patrimônio, sucessão, doações, e outras questões”, Vallada conclui. “Então a tecnologia é uma ferramenta importante, mas a combinação de experiência humana e capacidade tecnológica para fornecimento de informação é o caminho certo.”